A D.R. primordial
D.R. apócrifa
Apontando com sua espada flamejante para o leste e gesticulando com sua outra mão o Guardião ergueu uma cortina composta por um fogo divino, selando de vez o acesso ao Paraíso.
Enfurecida, Eva vira-se vociferando:
_ Enfia essa espada no seu cu, pau mandado do caralho.
Assustado com todo o ocorrido Adão interveio:
_ Para, Eva! Não provoque mais... Quem sabe ainda temos alguma chance de retornar.
_Retornar? Não tem retorno, Adão! Acorda! Fomos expulsos duma vez…. - irrompeu Eva enquanto procura pedras para jogar contra a barreira divina.
_ Merda de Guardião! Qual é o problema em comer uma maçã? Se não era pra comer por que tinha uma macieira lá dentro??? Alguém me responda!!!
_ Para com isso, Eva! Para! Você estragou tudo….
Eva parou. Abaixando a mão que ainda segurava uma pedra, ela se vira para Adão olhando fixo nos olhos embargados dele.
_ O quê? Eu estraguei tudo?
_ Estragou! Estragou sim! Você deu ouvidos à Serpente. Você trouxe a maçã... Eu nem gosto de maçã….
A cólera se instala e Eva solta a pedra ao chão. Caminha firme até Adão e tenta se controlar em um último gesto racional
_ Você tá me chamando de idiota? Eu por acaso te obriguei a comer a porra da maçã?
_ Não. Mas….
_ Mas o quê, Adão?
_ Mas foi você que trouxe!
_ E daí? Você comeu por que quis!
_ Mas eu não queria!
_ Então por que comeu?
_ Porque você falou “vamos comer”.
_ Para! Para tudo agora! Eu não falei, eu perguntei “vamos comer?” E você topou na hora!
_ Não! Não foi na hora…. já disse, eu nem gosto de maçã….
_ Mas comeu também!
_ Comi, mas... Mas….
_ Ah, que se foda, viu! Vamos ver onde a gente pode ir e cuidar da vida….
_ Mas eu não quero! Eu quero voltar! – chorando compulsivamente.
_ Não tem volta, Adão. O Guardião selou a passagem!
_ Tem que ter. Não é justo! A culpa é sua! Ninguém mandou você me dar a maçã.
_ Culpa minha coisa nenhuma! Ou a culpa é nossa ou não é de ninguém! Culpa é de quem deixou essa árvore crescer no Paraíso.
_ Não! A culpa é sua! – Adão empurra Eva.
_ Não põe a mão em mim!
_ Cala a boca, Eva! Cala a boca! Você só me atrapalhou nesta vida. Eu era feliz sozinho! Maldita! Eu te odeio!
_ Ah, você que é um mimadinho, filhinho do papai do céu... Acorda, trouxa.
Adão se enfurece e desfere um tapa violento contra Eva, que cai no chão balbuciando:
_ Ahhh.. Meu rosto.. O que….
Em seguida, a cabeça de Eva é golpeada por um chute e por fim desfalece. Outro chute atinge seu estômago e um filete de sangue escorre por seus lábios . Em prantos Adão senta-se ao lado do corpo da companheira:
_ Desculpa, Eva... Eu te amo... Mas eu quero voltar! Eu preciso voltar.
Aos poucos Adão vai se deitando junto ao corpo e termina por estuprar a parceira desacordada. Em meio ao coito, mas ainda zonza, Eva percebe o que está se passando.
Ela não mais consegue falar e indefesa vê sua fúria ser substituída por uma tristeza profunda. Ela olha em direção ao portão flamejante do Paraíso e crê que as chamas dançam felizes enquanto sua desgraça prossegue. Por que o Paraíso haveria de zombar dela? Qual a razão de sua existência frente ao bruto, que além de toda argumentação, ainda prevalecia pelo uso da força? Força! Força era a questão latente. Seu destino seria superar a força. Eva então riu uma risada oca, uma mistura de sangue, baba e clareza e por fim determinou consigo mesma:
_ Filho da puta, um dia eu e minhas filhas iremos nos libertar e eu ainda vou cortar teu pau fora!!!
fábio.shakall.sp.sp.07.2015